




"Vai tua vida
Teu caminho é de paz e amor
A tua vida
É uma linda canção de amor
Abre teus olhos e canta a última esperança
A esperança divina
De amar em paz...
Se todos fossem iguais a você
Que maravilha viver!
Uma canção pelo ar
Uma mulher a cantar
Uma cidade a cantar
A sorrir, a cantar, a pedir
A beleza de amar...
Como o sol, como a flor, como a luz
Amar sem mentir nem sofrer
Existiria verdade
Verdade que ninguém vê
Se todos fossem no mundo iguais a você!"
Vinícius de Moraes
Ternura - Vinicius de Moraes
Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar
extático da aurora.
Vinicius de Moraes
Soneto a Quatro Mãos
Tudo de amor que existe em mim foi dadoTudo que fala em mim de amor foi ditoDo nada em mim o amor fez o infinitoQue por muito tornou-me escravizado.Tão pródigo de amor fiquei coitadoTão fácil para amar fiquei proscritoCada voto que fiz ergueu-se em gritoContra o meu próprio dar demasiado.Tenho dado de amor mais que coubesseNesse meu pobre coração humanoDesse eterno amor meu antes não desse.Pois se por tanto dar me fiz enganoMelhor fora que desse e recebessePara viver da vida o amor sem dano
(Baden Powell e Vinícius de Moraes)
Formosa Não faz assim Carinho não é ruim Mulher que nega Não sabe não Tem um coisa de menos no seu coração
A gente nasce, a gente cresce A gente quer amar Mulher que nega Nega o que não é para negarA gente pega, a gente entrega A gente quer morrer Ninguém tem nada de bom sem sofrer Formosa mulher
Desalento
(Chico Buarque e Vinícius de Moraes)
Sim, vai e diz, diz assim
Que eu chorei, que eu morri de arrependimento
Que o meu desalento já não tem mais fim
Vai e diz, diz assim
Como sou infeliz no meu descaminho
Diz que estou sozinho
E sem saber de mim
Diz que eu estive por pouco
Diz a ela que estou louco
Pra perdoar
Que seja lá como for, por amor
Por favor é pra ela voltar
Sim, vai e diz, diz assim
Que eu rodei, que eu bebi
Que eu cai, que eu não sei
Que eu só sei que cansei, enfim
Dos meus desencontros
Corre e diz a ela
Que eu entrego os pontos
SONETO DA MAIORIDADE
O Sol, que pelas ruas da cidade
Revela as marcas do viver humano
Sobre teu belo rosto soberano
Espalha apenas pura claridade.
Nasceste para o sol; és mocidade
Em plena floração, fruto sem dano
Rosa que enfloresceu, ano por ano
Para uma esplêndida maioridade.
Ao Sol, que é pai do tempo, e nunca mente
Hoje se eleva a minha prece ardente:
Não permita ele nunca que se afoite
A vida em ti, que é sumo de alegria
De maneira que tarde muito a noite
Sobre a manhã radiosa do teu dia.
Vinicius de Moraes
Ausência
Eu deixarei que morra em mim o desejo
de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa
de me veres eternamente exausto
No entanto a tua presença é qualquer coisa
como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto
e em minha voz a tua voz
Não te quero ter porque
em meu ser está tudo terminado.
Quero só que surjas em mim
como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho
nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne
como uma nódoa do passado.
Eu deixarei ... tu irás e encostarás
a tua face em outra face
Teus dedos enlaçarão outros dedos
e tu desabrocharás para a madrugada
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu,
porque eu fui o grande íntimo da noite
Porque eu encostei a minha face
na face da noite e ouvi a tua fala amorosa
Porque meus dedos enlaçaram os dedos
da névoa suspensos no espaço
E eu trouxe até mim a misteriosa essência
do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só
como os veleiros nos portos silenciosos
Mas eu te possuirei mais que ninguém
porque poderei partir
E todas as lamentações do mar,
do vento, do céu, das aves, das estrelas
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente,
a tua voz sereniza
Vinicius de Moraes
"Procura-se um Amigo",
"Basta ser humano, ter sentimentos, ter coração. Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir. Tem que gostar de poesia, de madrugada, de pássaro, de sol, da lua, do canto, dos ventos e das canções da brisa. Deve amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam. Deve guardar segredo sem se sacrificar. Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e, no caso de assim não ser, deve sentir o grande vácuo que isso deixa. Tem que ter ressonâncias humanas, seu principal objetivo deve ser o de amigo. Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova, quando chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de grandes chuvas e das recordações de infância. Precisa-se de um amigo para não se enlouquecer, para contar o que se viu de belo e triste durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade. Que nos bata nos ombros sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo, para ter-se a consciência de que se vive".
Vinícius de Moraes
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